IFRS: a oportunidade para mudanças está na obrigação!

Por Anderson Thomaz*

Todos nós já ouvimos falar sobre os Padrões Internacionais de Demonstrações Financeiras (IFRS). Sabemos também que o Brasil, por meio das publicações do Comitê de Pronunciamentos Contábeis (CPC), está adotando um padrão internacional para divulgações dos resultados financeiros.
Mas será que esta é uma obrigação apenas da contabilidade? Ou será que é uma necessidade somente da área de Tecnologia da Informação (TI)? Neste caso, o primeiro passo para buscarmos oportunidades dentro da obrigação é entender quem é o responsável pelas mudanças no modo de realizar o balanço financeiro.
Frequentemente, os órgãos reguladores determinam normas comuns para as instituições financeiras, que as analisam, especificam e direcionam à área de TI, responsável por implementá-las. Já IFRS não deve ser encarada apenas como mais uma norma dentre tantas outras, e sim como um novo padrão contábil. Não serão feitas apenas mudanças no layout de dados ou será definido mais um relatório para ser apresentado, mas serão efetuadas mudanças em um processo contínuo, que é submetido a todas as áreas das instituições financeiras.
As mudanças atingirão as formas de avaliar os instrumentos financeiros, tratarão as perdas e contingências, demonstrarão os relacionamentos com outras instituições financeiras e com os próprios colaboradores e evidenciarão todo o processo da contabilidade desta instituição financeira. Esta é a abrangência do IFRS.
Agora que já sabemos quão abrangente serão as novas obrigações, poderíamos discutir cada uma das Normas Internacionais de Contabilidade (IAS) ou mesmo as publicações dos Comitês de Pronunciamentos Contábeis (CPCs). Porém, devemos ir além, de modo a identificar oportunidades que podem surgir em função destas obrigações.
Ao longo do tempo, diante de tantas normas vindas dos órgãos reguladores, as áreas de TI das instituições financeiras foram obrigadas a se remodelar, tornando possível que, no final do processo, todas as obrigações legais fossem atendidas. Desta forma, criou-se um ambiente tão heterogêneo e complexo que dificultou a identificação do começo e do término de um determinado processo.
Por meio do novo padrão contábil internacional, o IFRS, não é possível apenas reunir os dados para a geração de relatórios, pois é preciso repensar alguns processos. É onde podemos identificar as novas oportunidades!
Para entender melhor como estas normas podem ajudar, vamos falar sobre os “instrumentos financeiros”. É de conhecimento geral que a maioria dos sistemas voltados para os instrumentos financeiros está voltada a lançamentos contábeis. Sendo assim, o resultado final dessas arquiteturas é transmitido para o sistema de contabilidade por meio dos saldos de contas contábeis.
Porém, como gerar o cálculo de custo amortizado, da taxa efetiva e do valor justo com o nível de detalhamento exigido pelo IFRS, se o que recebemos hoje são apenas saldos em contas?
Qual gestor de TI nunca teve problemas com sistemas que apresentam cálculos ou lançamentos incorretos, que nunca puderam ser efetivamente corrigidos ou substituídos, devido à falta de orçamento, tempo ou mesmo recursos humanos?
Diante de tantas dúvidas, ainda podemos encontrar oportunidades a partir do IFRS: este é o momento para discutir com as demais áreas envolvidas uma estratégia eficiente e capaz de atender ao órgão regulador e, além disso, reestruturar uma área vital das instituições, que muitas vezes tem processos e sistemas fragmentados, criados apenas para resolver problemas de outros sistemas.
Como discutir a redução do valor recuperável de ativos (impairment) sem ter o controle total sobre a garantia atrelada ao contrato? Este pode parecer um desafio, mas é a oportunidade para iniciar uma discussão sobre o redesenho de um processo existente para uma forma simplificada.
Outra questão a se avaliar é a contabilidade por si só. Quase todas as obrigações impostas pelo IFRS têm a sua “evidenciação” na contabilidade. Porém, para efeito de Fisco, teremos uma contabilidade nos padrões atuais e outra no formato IFRS.
A estrutura contábil das instituições está pronta para este novo modelo? Quem nunca pensou em ter uma contabilidade multibalanço, capaz de conciliar de forma automática a contabilidade gerencial com a contabilidade financeira?
Ao invés de criarmos ajustes sob ajustes para atendermos a um único ponto, as obrigações oriundas do IFRS geram, sim, a oportunidade de rever grandes processos e ajustar itens fragmentados ao longo do tempo.
Por fim, há uma série de relatórios gerados por meio das obrigações do IFRS e, consequentemente, uma extensa variedade de dados gerados pelo IFRS, o que torna quase impossível não pensar em uma plataforma de inteligência de negócios (BI), capaz de potencializar o uso de todas estas informações para as instituições financeiras. Quem tem o domínio da informação não apenas está à frente da concorrência, como tem a agilidade para reagir às oscilações do mercado.
É claro que existem outras oportunidades a serem discutidas e, também, elas não são simples ou de fácil mensuração de retorno. Como estas mudanças são definitivas, certamente as instituições financeiras terão que rever seus processos, seja neste momento, para a adoção do IFRS, ou em breve, para a correção de caminhos adotados pela interpretação incorreta das mesmas.
Essa é uma discussão que deve acontecer em todas as instituições financeiras.

*Anderson Thomaz é arquiteto de soluções da Logica, provedora global de serviços de TI

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IFRS: a oportunidade para mudanças está na obrigação!

Por Anderson Thomaz*

Todos nós já ouvimos falar sobre os Padrões Internacionais de Demonstrações Financeiras (IFRS). Sabemos também que o Brasil, por meio das publicações do Comitê de Pronunciamentos Contábeis (CPC), está adotando um padrão internacional para divulgações dos resultados financeiros.
Mas será que esta é uma obrigação apenas da contabilidade? Ou será que é uma necessidade somente da área de Tecnologia da Informação (TI)? Neste caso, o primeiro passo para buscarmos oportunidades dentro da obrigação é entender quem é o responsável pelas mudanças no modo de realizar o balanço financeiro.
Frequentemente, os órgãos reguladores determinam normas comuns para as instituições financeiras, que as analisam, especificam e direcionam à área de TI, responsável por implementá-las. Já IFRS não deve ser encarada apenas como mais uma norma dentre tantas outras, e sim como um novo padrão contábil. Não serão feitas apenas mudanças no layout de dados ou será definido mais um relatório para ser apresentado, mas serão efetuadas mudanças em um processo contínuo, que é submetido a todas as áreas das instituições financeiras.
As mudanças atingirão as formas de avaliar os instrumentos financeiros, tratarão as perdas e contingências, demonstrarão os relacionamentos com outras instituições financeiras e com os próprios colaboradores e evidenciarão todo o processo da contabilidade desta instituição financeira. Esta é a abrangência do IFRS.
Agora que já sabemos quão abrangente serão as novas obrigações, poderíamos discutir cada uma das Normas Internacionais de Contabilidade (IAS) ou mesmo as publicações dos Comitês de Pronunciamentos Contábeis (CPCs). Porém, devemos ir além, de modo a identificar oportunidades que podem surgir em função destas obrigações.
Ao longo do tempo, diante de tantas normas vindas dos órgãos reguladores, as áreas de TI das instituições financeiras foram obrigadas a se remodelar, tornando possível que, no final do processo, todas as obrigações legais fossem atendidas. Desta forma, criou-se um ambiente tão heterogêneo e complexo que dificultou a identificação do começo e do término de um determinado processo.
Por meio do novo padrão contábil internacional, o IFRS, não é possível apenas reunir os dados para a geração de relatórios, pois é preciso repensar alguns processos. É onde podemos identificar as novas oportunidades!
Para entender melhor como estas normas podem ajudar, vamos falar sobre os “instrumentos financeiros”. É de conhecimento geral que a maioria dos sistemas voltados para os instrumentos financeiros está voltada a lançamentos contábeis. Sendo assim, o resultado final dessas arquiteturas é transmitido para o sistema de contabilidade por meio dos saldos de contas contábeis.
Porém, como gerar o cálculo de custo amortizado, da taxa efetiva e do valor justo com o nível de detalhamento exigido pelo IFRS, se o que recebemos hoje são apenas saldos em contas?
Qual gestor de TI nunca teve problemas com sistemas que apresentam cálculos ou lançamentos incorretos, que nunca puderam ser efetivamente corrigidos ou substituídos, devido à falta de orçamento, tempo ou mesmo recursos humanos?
Diante de tantas dúvidas, ainda podemos encontrar oportunidades a partir do IFRS: este é o momento para discutir com as demais áreas envolvidas uma estratégia eficiente e capaz de atender ao órgão regulador e, além disso, reestruturar uma área vital das instituições, que muitas vezes tem processos e sistemas fragmentados, criados apenas para resolver problemas de outros sistemas.
Como discutir a redução do valor recuperável de ativos (impairment) sem ter o controle total sobre a garantia atrelada ao contrato? Este pode parecer um desafio, mas é a oportunidade para iniciar uma discussão sobre o redesenho de um processo existente para uma forma simplificada.
Outra questão a se avaliar é a contabilidade por si só. Quase todas as obrigações impostas pelo IFRS têm a sua “evidenciação” na contabilidade. Porém, para efeito de Fisco, teremos uma contabilidade nos padrões atuais e outra no formato IFRS.
A estrutura contábil das instituições está pronta para este novo modelo? Quem nunca pensou em ter uma contabilidade multibalanço, capaz de conciliar de forma automática a contabilidade gerencial com a contabilidade financeira?
Ao invés de criarmos ajustes sob ajustes para atendermos a um único ponto, as obrigações oriundas do IFRS geram, sim, a oportunidade de rever grandes processos e ajustar itens fragmentados ao longo do tempo.
Por fim, há uma série de relatórios gerados por meio das obrigações do IFRS e, consequentemente, uma extensa variedade de dados gerados pelo IFRS, o que torna quase impossível não pensar em uma plataforma de inteligência de negócios (BI), capaz de potencializar o uso de todas estas informações para as instituições financeiras. Quem tem o domínio da informação não apenas está à frente da concorrência, como tem a agilidade para reagir às oscilações do mercado.
É claro que existem outras oportunidades a serem discutidas e, também, elas não são simples ou de fácil mensuração de retorno. Como estas mudanças são definitivas, certamente as instituições financeiras terão que rever seus processos, seja neste momento, para a adoção do IFRS, ou em breve, para a correção de caminhos adotados pela interpretação incorreta das mesmas.
Essa é uma discussão que deve acontecer em todas as instituições financeiras.

*Anderson Thomaz é arquiteto de soluções da Logica, provedora global de serviços de TI

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