Por José Adriano
O excesso de prioridades virou regra silenciosa no dia a dia executivo. Projetos, metas, deadlines, reuniões e notificações disputam espaço com família, saúde, espiritualidade e descanso. Quando percebemos, o trabalho ocupou não só o expediente, mas também o pensamento, o fim de semana e a mesa do jantar. Foi a partir dessa provocação que nasceu o episódio 15 do José Adriano Talks: um convite a revisitar o próprio modelo de vida, não só o modelo de gestão.
No novo episódio do José Adriano Talks, eu recebo o Daniel Grande, founder da MADI Wellness e da Evolve Sport, para falar sobre “Movimento que transforma: conexões entre vida, trabalho e propósito”. A conversa vai muito além de atividade física como benefício corporativo. Tocamos em temas como espiritualidade, cultura organizacional, liderança pelo exemplo e a coragem de dizer que trabalho é importante, mas não é – e não deveria ser – o centro de tudo.
Movimento, fé, família e trabalho: os pratinhos que não podem cair
Daniel usa uma imagem simples e poderosa: a dos pratinhos que precisamos equilibrar – família, saúde, esporte, fé, negócios. Passamos boa parte do tempo no trabalho, mas é impossível performar bem se os outros pratinhos estiverem rachados. Quem chega no escritório carregando conflitos familiares, exaustão física e vazio espiritual dificilmente terá energia para ser um bom líder, um bom gestor ou um decisor estratégico. O ponto central não é romantizar equilíbrio perfeito, e sim reconhecer que o trabalho flui muito melhor quando os outros pilares estão minimamente organizados.
Na trajetória do Daniel, três pilares foram decisivos: o esporte, praticado desde cedo; a espiritualidade cristã, com a Bíblia como “manual do construtor”; e a decisão consciente de não colocar o trabalho na primeira posição da lista de prioridades. Curiosamente, essa escolha não o afastou do sucesso profissional – pelo contrário. Ao fortalecer família, fé e saúde, ele criou as bases para empreender, liderar equipes e construir negócios em torno de um propósito claro: promover saúde e qualidade de vida também para os outros.
Do esporte à liderança: por que não existem atalhos
Um dos pontos altos do episódio é a conexão entre esporte e liderança. O esporte ensina a perder e levantar, a lidar com frustração, a conviver com concorrentes, a respeitar o tempo do processo. Ninguém acorda corredor de Ironman, assim como ninguém acorda líder maduro. Há treino, rotina, disciplina, erro, correção. Daniel lembra a lógica dos “10 mil horas”: você não se torna excelente em nada sem uma longa caminhada de prática deliberada – seja em performance esportiva, seja em gestão empresarial.
Esse raciocínio confronta diretamente a cultura dos atalhos que domina parte da nova geração. Muitos profissionais querem o discurso, o cargo e o lifestyle de C-level na fase em que ainda deveriam estar “engolindo sapo”, aprendendo o básico, observando o que não querem repetir como líderes no futuro. É duro ouvir, mas necessário: no começo da carreira, o foco é aprender e servir com excelência, não escolher o cenário perfeito. O alinhamento fino de propósito e cultura vem depois, quando a bagagem já permite fazer escolhas mais maduras.
Cultura, propósito e limites saudáveis para errar
Outro bloco importante da conversa gira em torno de cultura organizacional. Daniel é direto: cultura não se inventa em um workshop depois de 20 ou 30 anos rodando apenas atrás de lucro. A cultura verdadeira nasce da visão do fundador – do motivo pelo qual o negócio começou e do porquê ele deveria continuar existindo. Se, na origem, o propósito foi apenas “ganhar dinheiro”, dificilmente surgirá uma cultura sólida, coerente e inspiradora para várias gerações de colaboradores.
Ao mesmo tempo, ele defende algo que muitos executivos comentam, mas poucos implementam: espaço real para o erro. Sem violar dois limites inegociáveis – legalidade e moralidade –, o erro deveria ser encarado como matéria-prima da inovação. Empresas que punem qualquer desvio logo matam criatividade, iniciativa e pensamento crítico. Líderes que desejam equipes inovadoras precisam deixar claro onde estão os “icebergs” que não podem ser tocados e, a partir daí, permitir que as pessoas arrisquem, aprendam e cresçam.
Da reflexão individual à agenda corporativa
Talvez o trecho mais desconfortável – e mais útil – para quem ocupa posição de liderança seja o que fala de exemplo. Não faz sentido pregar movimento e bem-estar se o líder não cuida minimamente da própria saúde. Não faz sentido falar em família como valor se a agenda nunca abre espaço para estar presente em casa. Daniel compartilha a própria rotina: acordar cedo com a família, organizar o dia, correr às 10h em um “vácuo produtivo”, estar disponível à noite quando necessário e, ao mesmo tempo, proteger momentos de espiritualidade e convívio. Para quem vê de fora, pode parecer que ele “trabalha pouco”. Para quem está perto, fica claro que se trata de um modelo de alta responsabilidade, mas com escolhas mais conscientes.
Essa reflexão também se conecta ao desenho de benefícios e práticas corporativas. Em vez de copiar modismos – sala de descompressão, puffs, videogame – sem entender o time real, a proposta é algo mais simples e mais desafiador: alinhar o que a empresa oferece com o que ela realmente acredita. Em alguns contextos, o benefício mais transformador pode ser um horário flexível para atividade física; em outros, pode ser outro tipo de apoio. Não existe solução única, mas existe um critério que não muda: incoerência entre discurso e prática destrói confiança, enquanto pequenos gestos consistentes constroem cultura.
No fim, esse episódio do José Adriano Talks é menos sobre wellness e mais sobre estratégia de vida para quem lidera negócios em tempos de pressão contínua. Não se trata de romantizar equilíbrio perfeito, mas de admitir que ninguém sustenta alta performance profissional com baixa qualidade de vida pessoal por muito tempo. Movimento, propósito, fé, família, cultura e resultado não são mundos separados; são partes de uma mesma equação. A pergunta que fica é simples e incômoda: o modelo que você vive hoje é compatível com o tipo de liderança que você diz querer exercer amanhã?
Se esse tema conversa com o seu momento, vale ouvir o episódio completo “Movimento que transforma: conexões entre vida, trabalho e propósito” e levar essa discussão para o conselho, para a diretoria e para o RH da sua empresa. O José Adriano Talks está disponível em www.joseadrianotalks.com.br, no YouTube e nas principais plataformas de áudio, com episódios que conectam reforma tributária, tecnologia, inteligência artificial, futuro do trabalho, cultura, liderança e agora também saúde, movimento e propósito.
O podcast José Adriano Talks é apoiado por BlueTax, MitySafe, Grupo LPJ e KTGroup.
Ouça e participe:
O episódio completo está disponível no Spotify e demais plataformas de áudio. Links em https://www.joseadrianotalks.com.br/