Por José Adriano
Existe um mito confortável rondando o mundo corporativo: o de que inovar precisa ser complexo. Quanto mais sofisticado o discurso, mais “inovador” parece. Só que, na vida real, complexidade demais vira barreira. E barreira não gera valor, gera atraso.
No EP 17 do José Adriano Talks, eu conversei com Fernando Santos, da Abrasel Nacional e da Assespro-MG, e o recado ficou cristalino: inovar pode ser simples, desde que a estratégia esteja correta e a execução tenha disciplina. A conversa saiu do campo do hype e foi direto para o que resolve: como transformar ideia em uso e uso em resultado.
Fernando chamou isso de “fetiche da complexidade”. A gente tem medo de simplificar porque confunde simplicidade com superficialidade. Só que simplificar é uma escolha madura: é tirar ruído, reduzir atrito e tornar a solução acessível para quem realmente precisa dela. Em um Brasil diverso, desigual e ainda com muita gente fora do digital, simplificar é, também, um ato de inclusão.
A primeira virada acontece quando você desce para o chão de fábrica. Inovação não mora no slide bonito nem no discurso cheio de siglas. Ela mora na dor do dia a dia, na rotina do pequeno empreendedor, na operação que precisa funcionar sem drama. E aqui tem um ponto essencial: tecnologia é meio, não fim. O fim é gente. Gente atendida melhor, time mais produtivo, negócio com mais previsibilidade e menos desperdício.
A Abrasel traz um aprendizado valioso para quem quer escalar execução: ela opera com dois mandatos: representar e desenvolver. Representar é defender o setor e construir ambiente institucional. Desenvolver é ser agente de prosperidade do empreendedor, com um olhar de longo prazo para perenidade e qualidade de vida. Para não virar uma fábrica de iniciativas soltas, eles organizaram tudo em quatro jornadas, da ideia de abrir o negócio até o relacionamento contínuo, com informação, crescimento e apoio prático no meio do caminho.
Dois exemplos do episódio mostram bem como uma boa ideia sai do conceito e vira execução. O primeiro é o Open Delivery. Repare: não é mais uma plataforma tentando dominar o mercado, é um padrão para reduzir a dor operacional do restaurante, que precisa integrar PDV com marketplaces sem sofrer. É a lógica do “todo mundo falando a mesma língua”, empurrando o ecossistema para mais competição, menos fricção e mais simplicidade para quem está no balcão e na cozinha.
O segundo é o Conexão Abrasel, um hub que reúne soluções úteis em um lugar só, com uma premissa que eu gosto muito: não reinventar a roda. Se existe algo bem feito no mercado, integra. Se não existe, desenvolve. E, para o pequeno, isso ganha um peso enorme quando falamos de presença digital e rotinas básicas que destravam negócio. Às vezes, a virada não está em comprar uma tecnologia cara, mas em organizar o simples com consistência e aprender a operar o digital como ferramenta de sobrevivência e crescimento.
A parte mais “executiva” da conversa, daquelas que cabem numa reunião de conselho, foi a régua de maturidade em inovação: entrega, uso e valor. Tem empresa que comemora entrega e chama isso de inovação. Só que entrega sem uso é enfeite. E uso sem valor é custo disfarçado. Maturidade é sustentar os três, com disciplina, ritos e coragem para dizer não ao que não tem porquê e não tem entrega real de valor. Menos iniciativas, mais adoção, mais impacto.
E aí entra a Inteligência Artificial, que está virando assunto obrigatório, mas ainda é tratada como corrida por aparência. IA é amplificador: amplifica produtividade, mas amplifica erro também. Colocar IA em cima de processo ruim e dado ruim é só errar mais rápido, com mais confiança e em maior escala. O jogo, de novo, volta para o básico: clareza de objetivo, dados minimamente confiáveis, processo revisado e foco em produtividade que seja coletiva, não só individual.
Para fechar, tem um caso que resume o espírito do episódio: o restaurante que aceitava criptomoeda, mas tinha o PDV sem funcionar há duas semanas. Tecnologia de vitrine, operação travada. Inovação de verdade não é sobre parecer avançado, é sobre fazer o essencial funcionar com qualidade e transformar isso em valor.
Se você quer sair do discurso e ir para a prática, este episódio está no ar. Assista, ouça, compartilhe com quem decide e me conte: na sua empresa, vocês estão medindo inovação pela entrega, pelo uso ou pelo valor? E aproveite para acompanhar os demais episódios do José Adriano Talks — a ideia é sempre a mesma: traduzir complexidade em decisão boa, do jeito certo e na hora certa.
O podcast José Adriano Talks é apoiado por BlueTax, MitySafe, Grupo LPJ e KTGroup.
Ouça e participe:
O episódio completo está disponível no Spotify e demais plataformas de áudio. Links em https://www.joseadrianotalks.com.br/