Por José Adriano
Tem executivo que ainda acha que relações institucionais é só lobby, agenda e cafezinho. O problema é que, enquanto a empresa pensa assim, o mundo está jogando outro jogo: reputação, licença social para operar, pressão regulatória, investidores globais, comunidades mais atentas, informação em velocidade absurda e uma cobrança crescente por coerência. É nesse tabuleiro que a estratégia deixa de ser discurso e vira sobrevivência.
No episódio 18 do José Adriano Talks, eu converso com Alex Cabral, do Mining Hub e do IBRAM. O papo foi direto ao ponto: como navegar entre mercado, governo e comunidade sem cair em armadilhas de narrativa, sem confundir inovação com marketing e sem tratar ESG como cartaz bonito na recepção. É conversa de bastidor, com visão prática e sem romantização.
Alex traz uma definição que eu gostei muito: relações institucionais como diplomacia corporativa. Não é “defender interesse” no grito. É entender que cada ator tem sua linguagem, seus incentivos e seu tempo, e que alguém precisa fazer a tradução com maturidade. Uma empresa pode estar obcecada por resultado de curto prazo; o Estado, por regras e ritos; a comunidade, por confiança e impacto no território. Se você não entende essa dinâmica, você fala com todo mundo e não conversa com ninguém.
Daí entra um ponto sensível: inovação. Existe a inovação “piscina de bolinha”, aquela estética de modernidade que rende post no LinkedIn mas não muda o chão de fábrica. E existe a inovação que entrega, que mexe em processo, reduz risco, aumenta eficiência e responde a desafios reais do setor. Na mineração, isso aparece com força porque sustentabilidade não é opcional. É condição de continuidade, de competitividade e, principalmente, de legitimidade.
Transparência, aqui, não é só abrir dados. É ter didática. Alex puxa uma reflexão muito boa: publicidade sem didática vira ruído. E no ambiente corporativo, transparência é governança em movimento, é clareza de regras, é cultura que orienta decisão quando ninguém está olhando. É o oposto do “depois a gente vê”. Quanto mais complexo o ambiente, mais você precisa de mensagens retas, sem “zona cinza” e sem responder uma coisa por outra.
Quando a conversa encosta em ESG, fica claro por que o tema saiu do clube do slogan e virou variável de negócio. Metas ambientais e sociais só ganham tração quando deixam de ser disputa ideológica e entram no campo do que é exequível, relevante e mensurável. O interessante é perceber o valor dos modelos colaborativos, como hubs de inovação, para atacar problemas que não são de uma empresa só: resíduos e rejeitos, mineração circular, descarbonização. Tem coisa que não é concorrência. É humanidade, é cadeia produtiva, é futuro.
E aí vem o elefante na sala: a explosão de informação e a Inteligência Artificial. Ajuda e atrapalha, ao mesmo tempo. A promessa é acesso e velocidade; o risco é desinformação em escala e gente tomando decisão com base em “eu vi num lugar”. A chave que o Alex defende é simples e difícil: desenvolver capacidade crítica. Contestação consciente, filtro, repertório. Educação de base e educação corporativa viram infraestrutura de governança, não benefício.
Sobre regulação e controle, a pergunta mais honesta do episódio é a mais incômoda: quem controla o controlador? Existe demanda por algum tipo de controle, sim. Mas o desenho disso precisa ser democrático e funcional, senão vira munição política ou captura institucional. E, enquanto o cenário não amadurece, empresas inteligentes já estão criando seus próprios mecanismos: políticas, procedimentos, ferramentas, rituais e, de novo, didática para fazer regra virar prática.
No fim, o recado fica cristalino: o erro mais comum das organizações é vender uma coisa e praticar outra. Falar de futuro e negligenciar educação. Falar de sustentabilidade e não medir nada. Falar de ética e operar por exceção. Relações institucionais, no mundo real, não toleram incoerência por muito tempo.
O podcast José Adriano Talks é apoiado por BlueTax, MitySafe, Grupo LPJ e KTGroup.
Ouça e participe:
O episódio completo está disponível no Spotify e demais plataformas de áudio. Links em https://www.joseadrianotalks.com.br/